quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Consagração da criatura - Elisa Lucinda

Filho..., igualzinho à minha poesia
você nunca foi meu órgão
A arte é constante e me habita à hora que ela quer
e à hora que eu deixo
Mas não me existe combinada, não há contratos nem despejos
você tem intimidade com meus interiores
com meus departamentos
Você é um argumento contra mim e a meu favor
Me trai porque conhece meu avesso
Me enobrece porque me tornou poderosa
Capaz de prosseguir com essa invenção chamada humanidade
Você é a barbaridade de ter feito a minha barriga crescer
Meu corpo zunir, abrir, escancarar pra você sair
de onde eu nunca pus sequer os pés, as mãos
da casa em que vivo e habito sem nunca ter entrado
porque moro fora de mim.
O que faz de seu édipo eficiência
e de seu abuso, cultura
é essa estrutura feita de mim
sem que eu tenha em ti o mesmo acesso
Por isso a criatura é mais que o criador
e você que saiu por onde entrou

Como ocorre com o poema
tem seu passaporte carimbado para todos os estados
de minha alma, de meu espírito
Você que é onírico, sábio vassalo
Me tiraniza e perde a fala, o fôlego, o faro
Me organiza e ganha o futuro
e ainda segura o jogo duro de viver independente de minha respiração
Espião de meus bastidores
Olhou minhas entranhas enquanto virava ser humano
quieto dentro de mim como as palavras antes de serem poesia
Mas fui apenas uma pensão, uma besteira
ou um hotel cinco estrelas
ou um amniótico colchão.
Hoje saído dessa embalagem, me olhas como miragem
de parecer tão próprio, tão seu
Me olhas como árvore
ziguezagueia e olha para o que fui: passageira semente.
Me olha como gente que já me viu por dentro
vasculhou meu plasma, minhas gavetas
me deixou pasma, coroou minha buceta
e sabe meu segredo
Me olha elegante e vestido
e se sente despido ao saber que o olho de minha coxia
também te viu virar varão.
Deixar de ser óvulo, indefinição, projeto, embrião
e haverá sempre um leite materno
escorrendo pelo seu terno
como mirra, bênção, distração
como birra, alimento, maldição
maior que mim, melhor que mim.
Está pronto e feito, como o meu melhor poema
Nem branco nem preto.
Nem real nem ilusão.
Um grande amuleto da palavra são.

Para um Amor na Rua - Elisa Lucinda.

Meu amor,
vem pra casa que ouvi dizer
que vai estourar a guerra
Nostradamus previu
Raimunda, nega Raimunda confirmou
Por favor, ponha os pés na terra
Chão firme cama da gente
ouvi dizer que vai estourar a guerra.
Você que é mundano convicto
você que erra
vai argumentar que não há perigo e o escambou
que é apenas o "bicho" internacional.
Vai confundir tudo com show
vai dizer que tem Prince, Rock n'roll
Gun's N'Roses e talvez Gal;
É mau, meu bem
tem também Sadam, Bushes e mesquinharias
Vem pra casa guardar num cofre sua ingenuidade
vem proteger da maldade sua fotografia.
Aqui fiz cuscuz farofa e feijão fraldinho
aqui pintei filosofia, comigo-ninguém-pode
espada de São Jorge, jasmim, arruda, carinho.
Tudo anti-míssil
tudo bruxaria anti-crueldade bélica
Lá fora alguns meninos
querem experimentar a potência
de seus terríveis brinquedos.
Não tenha medo
vem pra casa sem nem telefonar
aqui tem ar, poesia, fé
e tudo que a alegria da alma encerra.

Vem, meu amor
que ouvi dizer que vai estourar a guerra.


(verão de 1991)

Penetração do pema de sete fases - Elisa Lucinda.

Á Carlos Drumond de Andrade


Ele entrou em mim sem cerimônias
Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu
Na primeira fala eu já falava como se fosse meu
O poema só existe quando pode ser do outro
Quando cabe na vida do outro
Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada
Há apenas frases e desabafos pessoais
Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz
A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas
Te amo porque nunca nos vimos
E me impressiono com o estupendo conhecimento
Que temos um do outro
Carlos, me escuta
Você que dizem ter morrido
Me ressuscitou ontem à tarde
A mim a quem chamam viva
Meu coração volta a ser uma remington disposta
Aprendi outra vez com você
A ouvir o barulho das montanhas
A perceber o silêncio dos carros
Ontem decorei um poema seu
Em cinco minutos
Agora dorme, Carlos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

É amor - Andressa Rocha

Hoje quando eu te vi...
Eu nem consigo descrever o que eu senti por dentro!
A expressão de todo esse sentimento
Foi um sorriso que minha boca desenhou
Só hoje eu fui me dá conta do quanto eu to perdida
Do quanto to apaixonada
Só de lembrar me dá uma angustia uma vontade de chorar
O amor não devia fazer isso com as pessoas
Tirar-lhe o senso o sentindo
Agora só sinto vontade de te ver
De te ouvir de ficar pertinho...
Eu to vendo tudo com outros olhos
Com mais carinho, com mais atenção
As vezes eu fico pensando que Deus
Criou o carinho e a alegria pensando em você
Ai eu tenho certeza de que deus fez minha vida inteira pra te dá
Pra você cuidar de mim e me fazer feliz!
Não se preocupe meu bem você já faz isso
Com a simples ação de existir.

Eu me apaixonei pela pessoa errada - Andressa Rocha

Eu me apaixonei pela pessoa errada
Aliais paixões são sempre erros
O incrível é que ao invés de chorar, sorrio
Vivo olhando pro céu
Agradecendo a meu anjo da guarda
Por ter trago você pra mim
Por que quando você apareceu
Eu vi tudo mudar
Eu to tentando esquecer
Mais eu já to tão envolvida
Nessa historia de paixão
Que meu coração inventou
Meu coração se abriu pra ver no que ia dar
Mais morre de medo de não dar em nada
Ele quer ouvir você dizer que o ama
Mas não do jeito que diz: de brincadeira
Quer ouvir um EUTEAMO que saia do fundo do seu coração
Eu só quero um pouquinho do seu carinho
Mais não quero ser sua amiga
Quero ser sua amada
Se você deixar, sei que posso te fazer feliz
Você é tudo que eu sempre quis
Então diz que me ama...

sábado, 24 de outubro de 2009

O significado do amor - Andressa Rocha

Descobrir o q é não parar de pensar em alguém,
Passar noites acordada, ter ciúmes...
Aprendi o significado da palavra amor
Esse significado foge de tudo que existe no dicionário
Percebi que sem vc n sei mais viver
Vc produz paixão em mim
E essa paixão se tornou o combustível de meu corpo.
Todo dia eu descubro em vc um
Motivo novo pra continuar te amando
Mais não me engano
Sei q o amor é cego e q o q vejo
Nem sempre é a realidade
Mesmo assim não sei parar
Por que a paixão é fogo q queima
Por dentro e faz evaporar o sangue
Paixão vicia...
E se torna tão grande ao ponto de
Eu esquecer de mim lembrando de vc
Amor é estado de graça, é loucura
É doença sem causa e sem solução.
Descobri o q é o amor!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Criação Propia - (sem titulo)

Eu vivia no meu mundinho fechado
Ate q apareceu vc, quando eu menos esperava
Vc tava ali do meu lado. Logo eu q n sou de me apaixonar
Mais me encantou
Seduziu-me e eu não tive como não em entregar
É amor esse sentimento q ta no meu coração
Q veio acabar com minha solidão
Agora eu fico sempre com uma alegria
Q nunca tem uma explicação.
É o amor q veio trazer uma nova era em minha vida
Inexplicavelmente não dá mais pra negar
Há mais quem diria...
Eu agora percebo o quanto estava perdida
Sem seu sorriso lindo...
Tudo é tão recente, tudo é tão inocente
Mais sem vc eu e sinto incapaz de plantar
A semente do amor no jardim de minha vida
Se isso n for amor, n sei mais o q pode ser!
Vc veio pra mim do céu, meu anjo mais lindo
Q apareceu pra alegrar minha vida!
Então Anjo por favor não se vá
Me deixa ficar contigo
Pra eu ver se descubro a razão de eu existir!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Apaixonado pelo amor - Allê Barbosa

É muito triste quando os começos são apenas séries de únicas vezes, é como se a tarde nunca virasse noite, a maré fosse e nunca mais voltasse aos seus pés e os beijos nunca se transformassem em sexo. Quando há apenas a primeira vez, fica lamentavelmente triste saber que os abraços nunca vão se converter em cuidado e atenção, que a lua cheia nunca se aproximará dos namorados. É desconcertante a sensação de que o frio cortante na barriga nunca se engravidará de casamento de amor, de almas que se encaixam como Lego.
Começo de namoro é sempre mistura criativa, como crianças brincando de massa de modelar, é uma necessidade com pressa de acontecer, uma urgência de sentir um tipo de saudade que faz a alma ficar pequena, uma tradução de encantamento e desejo que respiram dentro da gente. Começar um namoro é uma delícia, é abrir mão da possibilidade de ser feliz sozinho, é confiar num desconhecido que pode ser um anjo, é um gostoso emaranhar de pele com mãos, de suor com pele, de saliva com dentes, de generosos fluídos que o corpo entrega. Começo de namoro é uma delicada composição de palavras e assuntos que se esvaziam ao passar das horas, assuntos que se enchem com o absorver de olhares misteriosos, reticentes e desprotegidos. Começo de namoro traz pra frente o brilho que vive no fundo dos olhos e ativa a assinatura em que um olhar se reconhece no outro.
Quando eu estava no começo do que hoje é um casamento feliz, nas primeiras vezes em que ela dividiu a cama dela comigo, de manhã quando eu ia embora, naturalmente deixava meu cheiro no travesseiro, meus fios de cabelo espalhados na cama e na pele dela, esquecia em seu sorriso aquela sensação boa de que mais tarde voltaria. Nessas horas o corpo da gente parece criança a quem você promete pirulito, lhe puxa pelo braço querendo atenção, contribui produzindo lembranças para que você não se esqueça da magia de se apaixonar. É gostoso saber que em meio a mil pensamentos que estão na sua cabeça, um seja tão poderoso a ponto de voltar toda hora numa deliciosa cadência, o pensamento naquela pessoa. Viver em branco e preto não faz bem para os olhos, eles foram feitos para perceberem todas as cores. Quando conhecemos alguém e gostamos, ganhamos duas caixinhas de lápis de cor, vamos nos colorindo, descobrindo tonalidades, texturas e fazendo combinações de novas cores. Milagrosamente dá-se início a um mise-en-scène, um imediato e violento vício na pessoa, uma certa dependência química, simplesmente queremos mais presença da pessoa ao nosso lado, nunca é o bastante.

Quando você está muito ansiosa, você sente um desejo doido por chocolate, doces, e isso acontece por causa de um neurotransmissor chamado de serotonina, presente no chocolate. Do mesmo modo, as pessoas ficam deprimidas pela ausência deste hormônio no organismo. Quando temos um orgasmo, uma chuva de endorfinas são liberadas pela hipófise, nos causando euforia, relaxamento e sensação de recompensa. Somos química cotidiana e a paixão é orquestrada por essa química, essa fábrica de substâncias caras. Alguns estudos dizem que a paixão dura semanas, meses ou até anos, e acaba da noite para o dia, como se o corpo resolvesse desapaixonar, parar de produzir paixão. E depois? E aí? E as experiências, as implicações emocionais, sentimentais? Gosto de pensar que paixão é um fogo que queima seu estômago e faz evaporar seu sangue, contrai seus músculos e torna você um viciado, e isso me leva ao pensamento seguinte: é do útero dessa paixão quente que nasce o amor, que é um organismo abstrato, impalpável, pouco compreendido, mas o único capaz de suportar a vida. Talvez paixão seja apenas coisa do corpo, mas nós, gentilmente, colocamos açúcar nas definições de paixão, as temperamos com poesia e a ornamentamos com palavras coloridas e bonitos significados. Somos românticos, somos a parte lúdica dos processos da vida.
Antes de tudo, somos responsáveis por todas nossas escolhas, nossa felicidade e sentimentos. Às vezes elegemos para compor nossa vida amores que são verdadeiros enganos, palavras de perfume volátil e ruim, mãos que te empurrarão ribanceira abaixo como um jipe desgovernado. Existem falsos amores nocivos à saúde, como o cigarro que incomoda amigos, lhe destrói lentamente, mas você não percebe. Falsos amores são vampiros que tiram a paz do seu sangue, mas, sobretudo, somos nós quem permitimos que estes amores impostores nos sigam, e numa rua escura sugerimos que eles mordam nossa carne mais mole e lhe damos nosso melhor.
Começo de namoro é bom, sobretudo se começarmos certo e com a pessoa certa. O que se chama amor pode ser bem mais do que você imagina e muito menos do que você pensa, e é assim mesmo, fragmento de paradoxo escapando das explicações. Nietzsche disse que amamos mais o desejo do que o ser desejado... Ou seja, não amo você, amo a sensação boa que você me causa, amo o que está em mim. Na primeira lida é difícil digerir essas palavras tão egoístas, mas entendo que Nietzsche não teve a mesma sorte que eu. O amor é difícil de entender e nem sequer tem manual de explicação, é bobo, mas também é um pequeno sol que controla a vida fora do corpo, fora dos processos químicos.
Na deliciosa arte de começar um namoro, a paixão tropeça em nosso corpo e dessa paixão displicente brota o amor. Esse amor precisa ser puro e fluido como um bom texto que vai se ramificando através de palavras bem colocadas, um texto que tem um começo, um meio, e achamos que tem fim, mas não existe fim, o final é um código aberto, é a mensagem que fica ecoando na vida como uma música endereçada. O amor é a experiência mais extraordinária da vida, é a entrega não só do corpo, mas também da alma.
Ainda produzimos paixão, eu me apaixono todos os dias pela mesma mulher, por todas as mulheres que vivem dentro dela. Cada vez que a protejo do frio, cada vez que minha pele sente suas mãos delicadas, em cada beijo que ainda não acabou, em cada vez que a vejo se arrumando pra sair, toda linda, feminina, mulher. Amor não é remédio e nem solução de problemas, amor é a recompensa por você ter se curado, ele remove cirurgicamente a solidão do peito...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Aumento de tarifa do transporte publico

Hoje nós aulos do If do campus Eunapolis e alguns alunos da UNEB fomos as ruas protestar contra o aumento infundado da tarifa do transporte.
Você pode até pensar que o aumento de 30 centavos não tenha sido muito, mais se pensarmos bem ja é um absurdo numa cidade como Eunapólis com mais ou menos 95.000 habitantes ter que pagar 1,50 da tarifa de trasporte imagine então ter de pagar 1,80.
Eu pessoalmente fico a me endagar com base em que esse aumento?
por mais que me esforçe não consigo encontrar uma resposta. A Eunapolitana nem se quer avisou aos cidadões que a passagem aumentaria, os Eunapolitanos tomaram um susto a pegar o onibus essa semana.
Porriso fomos á ruas, porriso fomos átras de nossos direitos, e pelo que vi os cidadões estão nos apioando, com exceção de alguns poucos que acham que protesto é só bagunça de estudante, como por exemplo um motorista da Eunapolitana que por pouco não passa por cima de alguns colegas.
Enfim chegamos ao centro onde era o foco de nosso protesto,nos reunimos na avenida Porto Seguro, cantando rimas como: "Nas ruas, nas praças quem disse que sumiu, aqui esta presente o movimento estudantil".
Consiguimos parar uns 3 três onibus, passivamente como fomos orientados,porém chegou a policia pra nos dizer que tinhamos o direito sim de protestar, porem não de tirar o direito de ir e vir das pessoas. Então tá ne!
Então fomos caminhando na frente do ônibus, assim agente não tava atrapalhando o ir e vir de niguem, mais mesmo assim os policiais pediram que não ficassimos na frente dos ônibus. Ora! que direito é esse de protesto?
Aí eu parei pra pensar que no Brasil é assim mesmo agente tem tudo pela metade, é democracia pela metade, liberdade de expressão pela metade, então o direito de protestar seria pela metade também, ou seja um falso "direito" de protesto.
Agente só quer ter uma Eunapólitana mais Eunapólitana, e se agente tiver de pagar 1,80 de tarifa de ônibus agente quer um trasporte que valha 1,80.

sábado, 26 de setembro de 2009

Jorge Amado - Nem o cravo, nem a rosa...

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.

Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes.

Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só 0 ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só 0 ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.

Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!

Nizan Guanaes

SOU BAIANO


Quando eu conheci Jorge Amado em Paris, ele me levou para almoçar num bistrô perto do seu apartamento no Marais.
Ao longo do caminho, fiquei pensando em algo bem inteligente para
impressionar o grande escritor.
Ao sentarmos à mesa ele disparou: 'Nizan, você já reparou como a
bunda da mãe Cleusa é grande?'

A Bahia é assim. Desconcertante.. Pense num absurdo, multiplique por
dois: na Bahia já aconteceu..

Há em Salvador uma casa funerária que se chama Decorativa e uma
companhia de táxi aéreo que se chama BATA (Bahia Táxi Aéreo).
É dentro deste espírito esportivo que a Bahia surpreende desde 1500.

Caetano Veloso me disse rindo que os baianos e os judeus se julgam
raças eleitas e que ambos têm razão.
Se somos ou não raça eleita, há controvérsias. Mas que é uma raça
privilegiada não há dúvida.

Castro Alves, Rui Barbosa, Jorge Amado, Assis Valente, João Ubaldo
Ribeiro, João Gilberto, Caetano, Gal, Gil, Betânia, Daniela Mercury,
Glauber Rocha, Dorival e Nana Caymmi, Carlinhos Brown, Raul Seixas, Ivete
Sangalo e agora Pity, Lázaro Ramos e Wágner Moura (dentre outros).

Não pode ser coincidência. E não é.
É fruto da energia que o índio enterrou e que o português descobriu
misturado com o axé que o negro trouxe.
É essa energia que buscam os cansados, os estressados, os sem
esperança, os de alma ou cadeira dura.

E a Bahia os escolhe com sua graça e sua benção.
Dianne Vreeland diz na peça Full Gallop, grande sucesso na Broadway,
que o azul mais bonito é o céu da Bahia.
Tudo na Bahia tem luz, sobretudo as pessoas.
Que em sua simplicidade, com sua fé, com suas peles negras e dentes
alvos, dançam, cantam e iluminam um mundo rico, mas cada vez mais pobre.

Um desses endinheirados, mas pobre de espírito, certa vez resolveu
pegar no meu pé, numa festa, e me perguntou:
- Se a Bahia é tão boa, porque você não mora lá?'.
O Orixá me ajudou e eu respondi na lata:
- Porque lá eu não me destaco, pois todos são baianos.**

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Elisa Lucinda - Lua nova demais

Dorme tensa a pequena
sozinha como que suspensa no céu
Vira mulher sem saber
sem brinco, sem pulseira, sem anel
sem espelho, sem conselho, laço de cabelo, bambolê
Sem mãe perto,
sem pai certo
sem cama certa,
sem coberta,
vira mulher com medo,
vira mulher sempre cedo.

Menina de enredo triste,
dedo em riste,
contra o que não sabe
quanto ao que ninguém lhe disse.
A malandragem, a molequice
se misturam aos peitinhos novos
furando a roupa de garoto que lhe dão
dentro da qual mestruará
sempre com a mesma calcinha,
sem absorvente, sem escova de dente,
sem pano quente, sem O B.
Tudo é nojo, medo,
misturação de “cadês.”

E a cólica,
a dor de cabeça,
é sempre a mesma merda,
a mesma dor,
de não ter colo,
parque
pracinha,
penteadeira,
pátria.
Ela lua pequenininha
não tem batom, planeta, caneta,
diário, hemisfério,
Sem entender seu mistério,
ela luta até dormir
mas é menina ainda;
chupa o dedo
E tem medo
de ser estuprada
pêlos bêbados mendigos do Aterro
tem medo de ser machucada, medo.
Depois mestrua e muda de medo
o de ser engravidada, emprenhada,
na noite do mesmo Aterro.
Tem medo do pai desse filho ser preso,
tem medo, medo
Ela que nunca pode ser ela direito,
ela que nem ensaiou o jeito com a boneca
vai ter que ser mãe depressa na calçada
ter filho sem pensar, ter filho por azar
ser mãe e vítima
Ter filho pra doer,
pra bater,
pra abandonar.

Se dorme, dorme nada,
é o corpo que se larga, que se rende
ao cansaço da fome, da miséria,
da mágoa deslavada
dorme de boca fechada,
olhos abertos,
vagina trancada.
Ser ela assim na rua
é estar sempre por ser atropelada
pelo pau sem dono
dos outros meninos-homens sofridos,
do louco varrido,
pela polícia mascarada.

Fosse ela cuidada,
tivesse abrigo onde dormir,
caminho onde ir,
roupa lavada, escola, manicure, máquina de costura, bordado,
pintura, teatro, abraço, casaco de lã
podia borralheira
acordar um dia
cidadã.
Sonha quem cante pra ela:
“Se essa Lua, Se essa Lua fosse minha...”
Sonha em ser amada,
ter Natal, filhos felizes,
marido, vestido,
pagode sábado no quintal.

Sonha e acorda mal
porque menina na rua,
é muito nova
é lua pequena demais
é ser só cratera, só buracos,
sem pele, desprotegida, destratada
pela vida crua
É estar sozinha, cheia de perguntas
sem resposta
sempre exposta, pobre lua
É ser menina-mulher com frio
mas sempre nua.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tom Jobim - muito lindo poesia PURA!

Por Toda Minha Vida

Minha bem amada
Quero fazer de um juramento uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente teu e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou, ninguém
Minha bem amada
Estrela pura, aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor, o meu amor
Maior que tudo quanto existe

Carlos Drummond Andrade

DESEJOS

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Entrevista de Carlos Bagno á VEJA - Muito interresante

Carta de Marcos Bagno para a revista Veja
São Paulo, 4 de novembro de 2001

Sr. Editor,


Em 1990, o lingüista e educador britânico Michael Stubbs escrevia que "toda a área da língua na educação está impregnada de superstições, mitos e estereótipos, muitos dos quais têm persistido por séculos e, às vezes, com distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos por parte da mídia". É triste constatar que essas palavras, publicadas há mais de uma década, se aplicam com precisão impressionante ao que ainda ocorre hoje em dia no Brasil. Afinal, de que outro modo qualificar a reportagem de capa do número 1725 de VEJA senão como uma série de "distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos por parte da mídia"?
O texto assinado pelo Sr. João Gabriel de Lima demonstra o quanto nossos meios de comunicação de massa se encontram, perdoe-me o lugar-comum, na contramão da História quando o assunto é língua. Há um absoluto despreparo de jornalistas e comunicadores para tratar do tema (um exemplo gritante disso veio a público em outra edição recente de VEJA, a de número 1710, com a reportagem "Todo mundo fala assim").
Se falo de contramão é porque - passados mais de cem anos de surgimento, crescimento e afirmação da Lingüística moderna como ciência autônoma -, a mídia continua a dar as costas à investigação científica da linguagem, preferindo consagrar-se à divulgação e sustentação das "superstições, mitos e estereótipos" que circulam na sociedade ocidental há mais de dois mil anos. Isso é ainda mais surpreendente quando se verifica que, na abordagem de outros campos científicos, os meios de comunicação se mostram muito mais cuidadosos e atenciosos para com os especialistas da área. Quando o assunto é língua, porém, o espaço maior é invariavelmente ocupado por alguns oportunistas que, apoderando-se inteligentemente dessas "superstições, mitos e estereótipos", conseguem transformar esse folclore lingüístico em bens de consumo que lhes rendem muito lucro financeiro, além de fama e destaque na mídia. Basta comparar o espaço dedicado, no último número de VEJA, ao Prof. Luiz Antônio Marcuschi (reconhecido quase unanimemente hoje no Brasil como o nome mais importante da ciência lingüística entre nós) e aos atuais pregadores da tradição gramatical que infestam o quotidiano dos brasileiros com suas quinquilharias multimidiáticas sobre o que é "certo" e "errado" na língua.
Seria espantoso ver uma matéria de VEJA em que aparecessem zoólogos falando mal da Biologia, ou engenheiros criticando a Física, ou cirurgiões maldizendo da Medicina. No entanto, ninguém se espanta (e muitos até aplaudem) quando o Sr. João Gabriel de Lima, fazendo eco aos detratores da Lingüística (como o Sr. Pasquale Cipro Neto), fala da existência de "certa corrente relativista" e escreve absurdos como "trata-se de um raciocínio torto, baseado num esquerdismo de meia-pataca, que idealiza tudo o que é popular - inclusive a ignorância, como se ela fosse atributo, e não problema, do 'povo'. O que esses acadêmicos preconizam é que os ignorantes continuem a sê-lo." Seria muito fácil retrucar que estamos aqui diante de um "direitismo de meia-pataca" que acredita na existência de uma "ignorância popular", mas, como cientista, prefiro recorrer a outro tipo de argumento, baseado na reflexão teórica serena e na experiência conjunta de muitas pessoas que há anos se dedicam ao estudo e ao ensino da língua portuguesa no Brasil.
Segundo a reportagem, as críticas que o Sr. Pasquale Cipro Neto recebe dessa "corrente relativista" deixam-no "irritado". Ora, o que parece realmente irritar o Sr. Pasquale é o fato de que, apesar de obter tanto sucesso entre os leigos, nada do que ele diz ou escreve é levado a sério nos centros de pesquisa científica sobre a linguagem, sediados nas mais importantes universidades do Brasil - centros de pesquisa lingüística, diga-se de passagem, reconhecidos internacionalmente como entre alguns dos melhores do mundo (Unicamp, USP, Unesp, UFRGS, UFPE entre outras). Muito pelo contrário, se o nome do Sr. Pasquale é mencionado nas nossas universidades, é sempre como exemplo de uma atitude anticientífica dogmática e até obscurantista no que diz respeito à língua e seu ensino (em vários de seus artigos em jornais e revistas ele já chamou os lingüistas de "idiotas", "ociosos", "defensores do vale-tudo" e "deslumbrados").
Se o Sr. Pasquale se irrita com os cientistas da linguagem, é porque sabe que não tem como responder às críticas que recebe por parte dos pesquisadores, dos teóricos e dos educadores empenhados num conhecimento maior e melhor da realidade lingüística do nosso país. Digo isso com base na experiência de já ter participado de três debates junto com o Sr. Pasquale e ter conhecido sua estratégia de nunca responder com argumentos consistentes às críticas a ele dirigidas, preferindo sempre retrucar com arrogância, prepotência, grosserias e ataques pessoais (chamando os lingüistas de "ortodoxos" - seja isso lá o que for - e de "bichos-grilos") ou fazendo-se de vítima de alguma perseguição (num desses encontros ele declarou sentir-se como um "boi de piranha").
A razão para essa falta de argumentos consistentes é muita simples: o Sr. Pasquale não tem formação científica para tratar dos assuntos de que trata. Suas opiniões se baseiam exclusivamente na arcaica doutrina gramatical normativo-prescritiva, cuja inconsistência teórica e cujos problemas epistemológicos graves vêm sendo demonstrados e criticados pela Lingüística moderna desde pelo menos o final do século XIX. As concepções do Sr. Pasquale de "certo" e de "errado" estão em franca oposição, não só com as teorias científicas mais atuais, mas até mesmo com a postura investigativa dos gramáticos profissionais de sólida formação filológica (coisa que ele definitivamente não é), para não mencionar as diretrizes pedagógicas das instâncias superiores da Educação nacional. O documento do Ministério da Educação chamado Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo, é bem explícito em seu volume dedicado ao ensino da língua portuguesa: A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre 'o que se deve e o que não se deve falar e escrever', não se sustenta na análise empírica dos usos da língua.E este mesmo documento é enfático ao afirmar que:há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades lingüísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma 'certa' de falar - a que se parece com a escrita - e o de que a escrita é o espelho da fala - e, sendo assim, seria preciso 'consertar' a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.É provável, no entanto, que o Sr. Pasquale Cipro Neto e o Sr. João Gabriel de Lima acreditem que os Parâmetros Curriculares Nacionais sejam obra de membros daquela "corrente relativista" que conseguiram se infiltrar no Ministério da Educação e se apoderar da redação do documento oficial. Vamos, então, deixar de lado as propostas oficiais de ensino e lançar um olhar sobre a própria prática normativo-prescritiva de pessoas como o Sr. Pasquale - assim ficará mais fácil descobrir por que ele não encontra argumentos para reagir às críticas bem-fundadas dos lingüistas e educadores sérios e por que só consegue fazer sucesso entre os leigos e os que se recusam (certamente por motivações ideológicas) a aceitar uma concepção de língua mais democrática.
Consultando a gramática que Pasquale Cipro Neto assina em parceria com Ulisses Infante (Gramática da Língua Portuguesa, Editora Scipione, São Paulo, 1998), encontra-se, à p. 521-522, a seguinte explicação para o uso supostamente "correto" do verbo custar:Custar, no sentido de "ser custoso", "ser penoso", "ser difícil" tem como sujeito uma oração subordinada substantiva reduzida. Observe:
Ainda me custa aceitar sua ausência.
Custou-nos encontrar sua casa.
Custou-lhe entender a regência do verbo custar.
No Brasil, na linguagem cotidiana, são comuns construções como "Zico custou a chutar" ou "Custei para entender o problema" [...]
Na língua culta, essas construções em que custar apresenta um sujeito indicativo de pessoa são rejeitadas. Em seu lugar, devem-se utilizar construções em que surja objeto indireto de pessoa: "Custou a Zico chutar" (= Custou-lhe chutar")Quero chamar a atenção, aqui, para a seguinte afirmação dos autores: "Na língua culta, essas construções [...] são rejeitadas". Aqui está um exemplo claro e nítido de uma concepção abstrata da língua, tratada como uma espécie de entidade viva, de sujeito animado, capaz de "rejeitar" alguma coisa. Ora, que língua culta é essa que supostamente rejeita essas construções? Será a língua dos nossos grandes escritores, que sempre serviu de material para o trabalho dos gramáticos normativistas? Fui investigar e descobri que não é, porque os exemplos de uso do verbo custar com sujeito são mais do que abundantes na nossa melhor literatura:(1) "Seixas custou a conter-se" (José de Alencar)
(2) "... as moças custavam a se separar" (Clarice Lispector)
(3) "Renato custou a acordar" (Carlos Drummond de Andrade)
(4) "Felicidade, custas a vir e, quando vens, não te demoras" (Cecília Meireles)"Será que Alencar, Clarice Lispector, Drummond e Cecília Meireles não são bons exemplos de usuários da "língua culta"? Se não é na literatura, quem sabe, então, se recorrermos à imprensa contemporânea? Será que é lá que mora a famosa "língua culta" que rejeita essas construções? Ora, consultando o jornal onde o próprio Pasquale Cipro Neto escreve (Folha de S. Paulo) e onde presta serviços de "consultor de português" (seja isso lá o que for), encontramos:(6) Quem foi ao show de Maria Bethânia, anteontem à noite, depois de assistir o sóbrio concerto de João Gilberto, custou a crer que estivesse na mesma cidade (22/6/1998, p. 5-10).(7) O técnico colombiano, Hernán Darío Gómez, [...] custou a admitir a superioridade rival (16/6/1998, p. 4-14).(8) O nome Kubitschek era complicado de pronunciar, custou a ser assimilado pela fonética eleitoral (21/11/1997, p. 4-3).Se lembrarmos que José de Alencar morreu em 1877, fica muitíssimo claro que essa construção está viva e presente na nossa língua há muito mais de um século! Os autores da gramática estão proferindo uma inverdade ao dizer que essa construção é típica do "Brasil quotidiano". Os Srs. Pasquale e Ulisses, em vez de se curvar à realidade concreta dos fatos, tentam nos convencer de que a opção que eles preferem, só porque é a tradicional, é que deve ser considerada "a melhor". É uma atitude essencialmente dogmática, que se recusa a empreender a pesquisa empírica mínima necessária para afirmações sobre o que existe e o que não existe na língua. Além disso, essa atitude é ainda mais conservadora do que a posição assumida por gramáticos de gerações anteriores à deles, como Celso Pedro Luft e Domingos Paschoal Cegalla, que reconhecem a vitória da construção "eu custo a crer que"...
Esse é apenas um pequeno exemplo de como é fácil, para um pesquisador munido de instrumental teórico consistente e de metodologia científica adequada, desautorizar uma a uma, e de modo convincente, as afirmações presentes no trabalho do Sr. Pasquale Cipro Neto e de outros atuais defensores da doutrina gramatical tradicional mais normativa e mais prescritiva possível. Por causa de tudo isso é que a estréia do Sr. Pasquale no programa Fantástico da Rede Globo representa, para a grande maioria dos cientistas da linguagem e dos educadores conscientes, mais um exemplo de como o nosso trabalho ainda está no começo, apesar de tudo o que já temos dito e feito. O quadro do Sr. Pasquale no Fantástico faz regredir em pelo menos 25 anos os grandes avanços já obtidos pela Lingüística na renovação do ensino de língua na escola brasileira. Não consigo, portanto, deixar de repetir o chavão: ele se encontra na contramão da História.
Como já enfatizei acima, pessoas como o Sr. Pasquale só conseguem fazer sucesso entre os leigos, porque dizem exatamente o que as pessoas desejam ouvir: os mitos, as superstições e as crenças infundadas que, há mais de dois mil anos, guiam o senso-comum ocidental no que diz respeito à língua. Refiro-me ao senso-comum ocidental porque essa situação de embate entre uma ciência lingüística moderna e uma doutrina gramatical arcaica também se verifica em outros países - basta ler os livros Language Myths, publicado na Inglaterra sob organização de L. Bauer e P. Trudgill, e o Catalogue des idées reçues sur le langage, publicado na França por Marina Yaguello. É por isso que escrevi, acima, que nossa luta ainda está no começo. É uma pena que não possamos contar com a ajuda dos meios de comunicação para dissipar todos esses mitos e preconceitos, que impedem a formação, no Brasil em particular, de uma auto-estima lingüística, uma vez que tudo o que os brasileiros ouvem e lêem são os mesmos chavões, repetidos há séculos, de que "brasileiro não sabe português" e que a língua que falamos é "português estropiado". (O pesquisador canadense Christophe Hopper localizou lamúrias e queixas sobre a "ruína" e a "decadência" do francês em textos publicados em 1933, 1905, 1730 e 1689, o que prova a antiguidade desse discurso alarmista e preconceituoso sobre o fenômeno da mudança das línguas ao longo do tempo!)
Outro fato lamentável, na reportagem de VEJA, é que seu autor não tenha prestado o grande favor à sociedade de identificar quem são os membros dessa "certa corrente relativista", para que todos, público leitor em geral e lingüistas profissionais em particular, pudéssemos nos precaver contra o suposto "raciocínio torto" de um "esquerdismo de meia-pataca" dos que acreditam que ensinar a norma-padrão não seria útil para as classes sociais desfavorecidas. Minha curiosidade ficou especialmente aguçada porque, como pesquisador dedicado há muitos anos ao estudo das relações entre língua, ensino de língua e fenômenos sociais, até hoje não encontrei uma única obra - assinada por lingüista de formação ou por educador profissional - que negasse a importância do ensino da norma-padrão na escola brasileira, que pregasse a idéia torpe de que não se deve ensinar as formas prestigiosas da língua, ou que "preconizam que os ignorantes continuem a sê-lo", para citar as palavras infelizes da reportagem de VEJA.
Entre os membros da comunidade acadêmico-científica que não se intimidam diante da pressão esmagadora das "superstições, mitos e estereótipos" sobre a língua podemos citar a Profa. Magda Soares (reconhecida como uma das mais importantes educadoras brasileiras de todos os tempos) e o Prof. Sírio Possenti (que nunca teve papas na língua para denunciar e demolir cientificamente os absurdos proferidos por gente como Pasquale Cipro Neto). Ora, já em 1986, Magda Soares, em seu livro (um clássico da educação brasileira) Linguagem e Escola (Editora Ática), escrevia, sem hesitação (p. 78):Um ensino de língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais e econômicas reconhece, no quadro dessas relações entre a escola e a sociedade, o direito que têm as camadas populares de apropriar-se do dialeto de prestígio, e fixa-se como objetivo levar os alunos pertencentes a essas camadas a dominá-lo, não para que se adaptem às exigências de uma sociedade que divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento fundamental para a participação política e a luta contra as desigualdades sociais.Também em seu muito divulgado livro Por que (não) ensinar gramática na escola (Ed. Mercado de Letras, 1996), Sírio Possenti faz questão de enfatizar (p. 17-18):O PAPEL DA ESCOLA É ENSINAR LÍNGUA PADRÃO
[...] adoto sem qualquer dúvida o princípio (quase evidente) de que o objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido. Qualquer outra hipótese é um equívoco político e ideológico. E eu mesmo, que não tenho hesitado em combater abertamente a manutenção das concepções arcaicas e preconceituosas de língua, escrevi em meu mais recente livro publicado (Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa, Parábola Editorial, 2001):[...] como responder a pergunta (invariavelmente presente na fala dos professores de língua): qual o objeto de ensino nas aulas de português? O que devemos ensinar a nossos alunos em sala de aula?
Uma resposta concisa e rápida seria: devemos ensinar a norma-padrão. Já que só se pode ensinar algo que o aprendiz ainda não conhece, cabe à escola ensinar a norma-padrão, que não é língua materna de ninguém, que nem sequer é língua, nem dialeto, nem variedade, como enfatizei acima. Ensinar o padrão se justificaria pelo fato dele ter valores que não podem ser negados - em sua estreita associação com a escrita, ele é o repositório dos conhecimentos acumulados ao longo da história. Esses conhecimentos, assim armazenados, constituiriam a cultura mais valorizada e prestigiada, de que todos os falantes devem se apoderar para se integrar de pleno direito na produção/condução/transformação da sociedade de que fazem parte.Tenho, portanto, a consciência muito tranqüila (como decerto também a têm Magda Soares, Sírio Possenti e, de fato, a maioria dos lingüistas e educadores brasileiros comprometidos com a democratização de nossa sociedade) de não fazer parte daquela "corrente relativista" e de não poder ser acusado de ter um "raciocínio torto". Por isso, volto a lamentar que o Sr. João Gabriel de Lima não tenha dado nome aos bois, para que, juntos, pudéssemos combater esse suposto "esquerdismo de meia-pataca". Não nomear seus adversários no plano intelectual, no entanto, é prática corrente de pessoas como Pasquale Cipro Neto que, embora alegando referir-se a "alguns" lingüistas, nunca se dá ao trabalho de dizer quem são os "idiotas", "ociosos" e "deslumbrados" a que se refere.
A grande diferença entre os lingüistas e educadores que defendem o ensino da norma-padrão e os apregoadores da doutrina gramatical arcaica está no fato de que já se sabe hoje em dia que, para aprender as formas mais padronizadas e prestigiosas da língua, não é necessário conhecer a nomenclatura gramatical tradicional, as definições tradicionais, nem praticar a velha e mecânica análise lexical e muito menos a torturante análise sintática. Em seu depoimento a VEJA, o Sr. Pasquale Cipro Neto lamenta que ninguém mais saiba diferenciar "sujeito" de "predicado", nem mesmo os professores. Ora, todo um longo trabalho de investigação teórica e de pesquisa em sala de aula - no Brasil e no resto do mundo -, trabalho que se faz há pelo menos trinta anos, já deixou muito claro que não é decorando as páginas da gramática normativa que uma pessoa será capaz de falar, ler e escrever adequadamente às diversas situações. O já citado M. Stubbs escrevia, em 1987, queMuita gente lamenta o fim do ensino da gramática formal (análise sintática e coisas assim), alegando que ele ajudava as crianças a escrever melhor, com mais precisão e assim por diante. [...] é duvidoso que aquele ensino jamais tenha ajudado muita gente a escrever melhor, e é nítido que ele afugentou um grande número de pessoas. A relação entre análise e compreensão, e entre compreensão consciente e produção de linguagem efetiva, é difícil de demonstrar.E o pedagogo canadense Gilles Gagné, em 1983, já dizia:"O uso da língua procede da intenção para a convenção", conclui McShane (1981), ao passo que a escola procede infelizmente ao contrário, isto é, das convenções lingüísticas para as intenções de comunicação; intenções, além disso, quase sempre artificiais e impostas ou sugeridas pelo mestre.E aquele que é considerado hoje, inclusive internacionalmente, como o nome mais importante da pesquisa científica sobre o português brasileiro contemporâneo - o Prof. Ataliba T. de Castilho, da USP, atual presidente da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina e coordenador do grande Projeto da Gramática do Português Falado (projeto apresentado de maneira distorcida e preconceituosa no número 1710 de VEJA) - escreve com toda clareza em seu livro A língua falada e o ensino de português (Ed. Contexto, 1998, p. 21-22):[...] os recortes lingüísticos devem ilustrar as variedades sócio-culturais da Língua Portuguesa, sem discriminações contra a fala vernácula do aluno, isto é, de sua fala familiar. A escola é o primeiro contato do cidadão com o Estado, e seria bom que ela não se assemelhasse a um "bicho estranho", a um lugar onde se cuida de coisas fora da realidade cotidiana. Com o tempo o aluno entenderá que para cada situação se requer uma variedade lingüística, e será assim iniciado no padrão culto, caso já não o tenha trazido de casa. Desse modo, prossegue o autor (p. 23),a gramática deixará de ser vista pelos alunos como a disciplina do certo e do errado, reassumindo sua verdadeira dimensão, que é a de esquadrinhar através dos materiais lingüísticos o funcionamento da mente humana. Afinal, o que aconteceu, ao longo dos séculos, segundo Castilho, foi quea gramática, que não era uma disciplina autônoma, assumiu na escola uma vida própria, desgarrada de suas origens, e concentrada apenas na sentença, na palavra e no som, obscurecendo-se sua argumentação e empobrecendo-se seu alcance. Se existe, porém, uma grande resistência contra o redimensionamento do lugar do ensino da gramática na escola é porque todos sabemos que, ao longo do tempo, o conhecimento mecânico da doutrina gramatical se transformou num instrumento de discriminação e de exclusão social. "Saber português", na verdade, sempre significou "saber gramática", isto é, ser capaz de identificar - por meio de uma terminologia falha e incoerente - o "sujeito" e o "predicado" de uma frase, pouco importando o que essa frase queria dizer, os efeitos de sentido que podia provocar etc. Transformada num saber esotérico, reservado a uns poucos "iluminados", a "gramática" passou a ser reverenciada como algo misterioso e inacessível - daí surgiu a necessidade de "mestres" e "guias", capazes de levar o "ignorante" a atravessar o abismo que separa os que sabem dos que não sabem português...
Em conclusão, Sr. Editor, gostaria de lhe pedir que, uma vez que tão amplo espaço foi concedido aos defensores da idéia medieval de que "os brasileiros não sabem falar bem", caberia agora a VEJA conceder igual espaço aos verdadeiros especialistas, às pessoas que dedicam toda sua energia, toda sua inteligência, toda sua vida, enfim, ao estudo dos fenômenos da linguagem humana e à proposição de novos métodos de ensino, capazes de dar voz aos que, por força de tantas estruturas sociais injustas, sempre foram mantidos no silêncio. Talvez assim VEJA possa se livrar do risco de ser acusada de promover "distorções deliberadas dos fatos lingüísticos e pedagógicos".Atenciosamente,MARCOS BAGNO
Doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo
Mestre em Lingüística pela Universidade Federal de Pernambuco
Escritor com mais de 20 livros publicados
Tradutor profissional de inglês, francês, espanhol e italiano
Membro da Associação Brasileira de LingüísticaAutor das seguintes obras sobre língua e educação, amplamente adotadas nas universidades brasileiras:
· A Língua de Eulália. Novela sociolingüística - Ed. Contexto, 1997 (em 10a edição, mais de 50.000 exemplares vendidos)
· Pesquisa na escola: o que é, como se faz - Ed. Loyola, 1998 (em 8ª edição, mais de 30.000 exemplares vendidos)
· Preconceito lingüístico: o que é, como se faz - Ed. Loyola, 1999 (em 10a edição, mais de 50.000 exemplares vendidos)
· Dramática da Língua Portuguesa: tradição gramatical, mídia & exclusão social - Ed. Loyola, 2000
· Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa - Parábola Editorial, 2001 (1a edição esgotada em menos de dois meses)
· Norma lingüística (seleção e tradução de textos de autores estrangeiros sobre a questão da norma) - Ed. Loyola, 2001

MARCOS BAGNO

sábado, 12 de setembro de 2009

Viviane Mosé

Receita pra lavar palavra suja



Mergulhar a palavra suja em água sanitária,

Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.

Algumas palavras quando alvejadas ao sol

adquirem consistência de certeza,

por exemplo a palavra vida.

Existem outras e a palavra amor é uma delas

que são muito encardidas e desgastadas pelo uso,

o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra,

depois enxaguar em água corrente.

São poucas as que ainda permanecem sujas

depois de submetidas a esses cuidados

mas existem aquelas.

Dizem que limão e sal tiram as manchas mais difíceis e nada.

Todas as tentativas de lavar a piedade foram sempre em vão.

Mas nunca vi palavra tão suja

como a palavra perda.

Perda e morte na medida em que são alvejadas,

soltam um líquido corrosivo

—que atende pelo nome de amargura—

capaz de esvaziar o vigor da língua.

Nesse caso o aconselhado é mantê-las sempre de molho

em um amaciante de boa qualidade.

Agora se o que você quer

é somente aliviar as palavras do uso diário,

pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.

O perigo aqui é misturar palavras que mancham

no contato umas com as outras.

A culpa, por exemplo, mancha tudo que encontra

e deve ser sempre clareada sozinha.

Uma mistura pouco aconselhada é amizade e desejo,

já que desejo sendo uma palavra intensa, quase agressiva,

pode, o que não é inevitável,

esgarçar a força delicada da palavra amizade.

Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.

Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras

sob o risco de perderem o sentido.

A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva

produz uma oleosidade que conserva a cor

e a intensidade dos sons.

Muito valioso na arte de lavar palavras

é saber reconhecer uma palavra limpa.

Para isso conviva com a palavra durante alguns dias.

Deixe que se misture em seus gestos

que passeie pelas expressões dos seus sentidos.

Á noite, permita que se deite,

não a seu lado, mas sobre seu corpo.

Enquanto você dorme

a palavra plantada em sua carne

prolifera em toda sua possibilidade.

Se puder suportar a convivência

até não mais perceber a presença dela,

então você tem uma palavra limpa.

Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Carlos Drummond Andrade

Hino Nacional


Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás as florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil.


O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...


Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites.


Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.


Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...


Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão
de seus sofrimentos.


Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?




Eduardo Alves da Costa


Quanto a mim, sonharei com Portugal


Às vezes, quando
estou triste e há silêncio
nos corredores e nas veias,
vem-me um desejo de voltar
a Portugal. Nunca lá estive,
é certo, como também
é certo meu coração, em dias tais,
ser um deserto.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Charge - Mauricio Ricardo

Charge - Mauricio Ricardo

Carlos Drummond Andrade

Hoje não escrevo

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.

Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.

Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhe os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.

E então vem o tédio. De Senhor dos Assuntos, passar a espectador enfastiado de espetáculo. Tantos fatos simultâneos e entrechocantes, o absurdo promovido a regra de jogo, excesso de vibração, dificuldade em abranger a cena com o simples par de olhos e uma fatigada atenção. Tudo se repete na linha do imprevisto, pois ao imprevisto sucede outro, num mecanismo de monotonia... explosiva. Na hora ingrata de escrever, como optar entre as variedades de insólito? E que dizer, que não seja invalidado pelo acontecimento de logo mais, ou de agora mesmo? Que sentir ou ruminar, se não nos concedem tempo para isso entre dois acontecimentos que desabam como meteoritos sobre a mesa? Nem sequer você pode lamentar-se pela incomodidade profissional. Não é redator de boletim político, não é comentarista internacional, colunista especializado, não precisa esgotar os temas, ver mais longe do que o comum, manter-se afiado como a boa peixeira pernambucana. Você é o marginal ameno, sem responsabilidade na instrução ou orientação do público, não há razão para aborrecer-se com os fatos e a leve obrigação de confeitá-los ou temperá-los à sua maneira. Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Concluiu que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não corta de verdade a barriga da vida, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira, assuntando, assuntando...

Então hoje não tem crônica.

Vinicius de Morais

SONETO DA FIDELIDADE


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Cronicas - Carlos Drummond Andrade

VIAGEM A PARIS

- Ouvi dizer que vai a Paris.
- Exato.
- A negócio?
- Não.
- Turista?
- Não.
- Missão política reservada?
- Não.
- Tão secreta assim?
- Não.
- Se não sou indiscreto...transa de amor?
- Não.
- Está muito misterioso.
- Não.
- Como não? Saúde, talvez.
- Não.
- Compreendo que não queira alarmar...
- Não.
- Busca apenas repouso.
- Não
- Fugir do trabalho, então.
- Não.
- Capricho do momento.
- Não.
- Tantos não devem significar um sim.
- Não.
- Significam sim. Vou repetir as hipóteses.
- Não.
- Temos pela frente uma indústria nova, de vulto.
- Não.
- De qualquer maneira, é financiamento internacional.
- Não.
- Então a coisa está ficando preta.
- Não.
- Está preta, e há jogadas que só em Paris.
- Não.
- Percebe-se alguma coisa no ar.
- Não.
- Não dá para perceber, mas há.
- Não.
- Mas pode haver a qualquer momento.
- Não.
- Nem hipótese?
- Não.
- Nenhuma nuvem distante, muito distante mesmo?
- Não.
- No ano que vem?
- Não.
- Ouvi mal?
- Não.
- Sendo assim, é segredo pessoal?
- Não.
- O coração é quem dita a viagem... eu sei.
- Não.
- Sim, sim. Pode confessar.
- Não.
- Hoje em dia essas coisas são públicas. Dão até cartaz.
- Não.
- Sei que não precisa disso, mas...
- Não.
- Por que não? Está com medo da imprensa?
- Não.
- Receia perder a situação social?
- Não.
- A situação financeira?
- Não.
- Política?
- Não
- Pois olhe, melhor é preparar o ambiente.
- Não.
- Claro que sim. Insinuar mudança em sua vida.
- Não.
- Discretamente.
- Não.
- De leve, só uma pincelada. Deixe comigo.
- Não.
- Não abro manchete nem boto aquela foto em duas colunas, aquela bacana, lembra?
- Não.
- Só cinco linhas.
- Não.
- Duas.
- Não.
- Mas tenho de dizer alguma coisa.
- Não.
- O senhor é notícia.
- Não.
- Pode dizer que não, mas é sim.
- Não.
- Puxa vida, o senhor hoje está medonho. Resolveu responder não a tudo que é pergunta minha?
- Não.
- Ah, é? Então vamos recomeçar: o senhor vai a Paris?
- Vou.
- E que é que vai fazer em Paris?
- Ver.
- Ver o quê?
- O Último Tango em Paris.
- E por que é que não me disse isso logo, homem de Deus?
- Você não me perguntou, por que eu havia de responder?

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Atividade - Lingua Portuguesa

1- Qual a diferença entre gênero textual e tipologia textual?
R: Genero textual é todo tipo de texto que circula em nosso dia-a-dia. Ex: uma receita ou uma charge são gêneros textuais.
Já a tipologia é a forma como o texto vai ser trabalhada. Ex: uma materia de um jornal normalmente é descritivo argumentativo.

2- Destaque 3 figuras de linguagem importante para a compreensão de um texto poetico. Explique-os.
R:
-Paradoxo: duas coisas que se contradizem ao mesmo tempo. Ex: o transito esta parado.
- personificação: dar vida a coisas ou seres irracionais. Ex: "O Sol amanheceu triste e escondido."
- Ironia: afirmar o contrario do que realmente se pensa. Ex: "As moças entrebeijam-se porque não podem comer-se umas às outras". (Monteiro Lobato)

3-Palavra chave: Classismo, Quinhentismo, Barroco.
R:
- Claridade, Romantismo, Imagens tridimencionais, leveza.
- Descrição, textos de faceis asceço.
- Paradoxo, Obscuridade, Tristeza.

sábado, 22 de agosto de 2009

Ricardo Reis - heteronimo Fernando Pessoa

Bocas Roxas




Bocas roxas de vinho,

Testas brancas sob rosas,

Nus, brancos antebraços

Deixados sobre a mesa;





Tal seja, Lídia, o quadro

Em que fiquemos, mudos,

Eternamente inscritos

Na consciência dos deuses.





Antes isto que a vida

Como os homens a vivem

Cheia da negra poeira

Que erguem das estradas.





Só os deuses socorrem

Com seu exemplo aqueles

Que nada mais pretendem

Que ir no rio das coisas.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Carlos Drummond Andrade - Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond Andrade - As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

O bêbado e o equilibrista - Elis Regina

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...

Asas!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...

Carta do Ausente - Vinicius de Morais

Meus amigos, se durante meu recesso virem por acaso
passar a minha amada peçam silêncio geral.
Depois apontem para o infinito.
Ela deve ir como uma sonâmbula,

envolta numa aura de tristeza,
pois seus olhos só verão a minha ausência.
Ela deve estar cega de tudo o que seja o meu amor

(esse indizível amor que vive trancado em mim num cárcere mirando empós seu rastro).
Se for a tarde, comprem e desfolhem rosas à sua melancólica passagem,

e se puderem entoem cantus-primus.
Que cesse totalmente o tráfego e silencie as buzinas

de modo que se ouça longamente o ruído de seus passos.
Ah, meus amigos, ponham as mãos em prece e roguem,

não importa a que ser ou divindade por que bem haja a
minha grande amada durante o meu recesso,
pois sua vida é minha vida, sua morte a minha morte.
Sendo possível soltem pombas brancas em quantidade suficiente

para que se faça em torno a suave penumbra que lhe apraz.
Se houver por perto um hi-fi, coloquem o "Noturno em sí bemol" de Chopin.
E se porventura ela se puser a chorar,

oh recolham-lhe as lágrimas em pequenos frascos de opalina
a me serem mandados regularmente pela mala diplomática.
Meus amigos, meus irmãos (e todos os que amam a minha poesia),

se por acaso virem passar a minha amada salmodiem versos meus.
Ela estará sobre uma nuvem envolta numa aura de tristeza

o coração em luz transverberado.
Ela é aquela que eu não pensava mais possível,

nascida do meu desespero de não encontrá-la.
Ela é aquela por quem caminham as minhas pernas e para quem foram feitos os meus braços,

ela é aquela que eu amo no meu tempo e que amarei na minha eternidade -
a amada una e impretérita.
Por isso procedam com discrição mas eficiência:

que ela não sinta o seu caminho, e que este, ademais ofereça a maior segurança.
Seria sem dúvida de grande acerto não se locomovesse ela de todo,

de maneira a evitar os perigos inerentes às leis da gravidade e do momentum dos corpos,
e principalmente aquele devidos à falibilidade dos reflexos humanos.
Sim, seria extremamente preferível se mantivesse ela reclusa em andar térreo e intramuros num ambiente azul de paz e música.
Oh, que ela evite sobretudo dirigir à noite e estar sujeita aos imprevistos da loucura dos tempos.
Que ela se proteja, a minha amada contra os males terríveis desta ausência com música e equanil.
Que ela pense, agora e sempre em mim,

que longe dela ando vagando pelos jardins noturnos da paixão e da melancolia.
Que ela se defenda, a minha amiga, contra tudo que anda, voa, corre e nada;

e que se lembre que devemos nos encontrar, e para tanto é preciso que estejamos íntegros,
e acontece que os perigos são máximos,
e o amor de repente de tão grande tornou tudo frágil,
extremamente, extremamente frágil.

sábado, 1 de agosto de 2009

Elisa Lucinda - falando de poesia...Ô mulher brilhante meu deus!

A poesia se embrenhou nos meus modos viventes. Não é mais só minha matéria-prima, é minha matéria-imã, minha matéria-irmã, minha matéria-mãe. Sua maternagem é fundamentar-se em mim. Escrevo desde os 17, mas poesia no palco é imagem de infância pra mim.

23 anos de Rio de Janeiro, no desenho eu vejo seu amadrinhamento de mim, o modo requintado e muito simples com que pousou como um pássaro na janela do meu olhar e me expôs às mais duras provas sob a sua guarda. Salas de aula, bares, teatros, recitais, livros feitos em casa, livros feitos à mão, primeiro em pequena escala, mas sempre dela é que veio meu pão. Contando assim pra mim mesma, nessa noite de inverno forte em Passo Fundo, vejo como andei e ando até hoje com a poesia como protagonista mesmo sendo ela tão figurante no cenário da realidade brasileira. Mesmo com todos os avanços da comunicação a gente ainda vê o maltrato dispensado a ela, pelos livreiros, leitores, editores, como se ela não pudesse ser sala de visita pra casa de ninguém. E o pior, ela é. Na profunda realidade do cotidiano, aquela óbvia que a gente nem percebe, a poesia está. Tocando nas canções de rádio, nos provérbios populares que habitam os diálogos, nas folhinhas do calendário penduradas nas paredes descascadas, no verso de cada dia das agendas das secretárias executivas, nos oráculos, nos livros de oração, nos bilhetes dos amantes, mas poucos a vêem como um filão. Pouca gente vê que é produto de primeira necessidade e nesse percurso me vejo levando-a pela mão e sendo levada por ela ao seu ouro, que é ao mesmo tempo o seu propósito: esclarecer, educar, desabafar pelo mundo, pensar com o mundo. A poesia é um ato de compaixão, uma declaração de amor de um homem pra outro. A humanidade respira no verso do outro, no verso do irmão. Tiro por mim: como divindades feitas de puro verbo, quantos Bilacs já salvaram meu peito? Quantas vezes já rezei Adélia, Pessoa, Quintana, Bandeira, Drummond? Quantas vezes não morri porque garrei na mão de Manoel de Barros? Dormi no colo de Cecília, não me perdi por pertencer ao rebanho de Caeiro e aprendi com a angústia como uma Clarisse. É bom ter poema pra cada ocasião, é mágico como um oráculo, a mesma poesia num outro dia ganha outro sentido, por isso nunca se acaba de ler um livro de poema, é leitura infinita.

Nunca separei poesia de teatro porque sempre vi a dramaturgia dela. São milhões de identidades e emoções cujos personagens somos nós poetas e toda a humanidade que representamos e a qual damos voz. Quando dei por mim, de tanto escolher a poesia percebi que ela tinha me escolhido também, é professora de minha atriz, responsável pelos meus convites para telenovelas, cinema, teatro, empresas, escolas, festa, palestras, aniversários, casamentos, convenções. É meu pistolão para todos os trabalhos, faz lobby pra mim e eu sou empresária dela. Dou aula de como dizê-la, assim coloquial, sem maneirismos, sem chatices, sem castigar os sentidos dos seus versos, daí há dez anos nasceu a minha escola de poesia que recebe o ano inteiro gente de toda profissão e idade, que quer falar poesia socialmente, ou profissionalmente. Agora, alunos já viraram professores e já somos uma equipe ensinando professores de escola pública o nosso jeito de transformar poesia em aula, agora estamos no Espírito Santo, minha terra natal.

Desde menina então, sob as ordens dessa deliciosa criatura venho cavalgando o mundo, como uma criança que carrega água na peneira e com a alegria da brincadeira vai regando a terra. De cada porta de teatro faço uma livraria, em cada auditório de empresa esta lá a minha banca, minha tenda de nobre camelô, mesmo que não se veja a banca ali, mesmo quando fisicamente ela não pode estar, está feito o serviço pela poesia, está vendido o livro, para que a palavra ande é preciso pregar a palavra, a isso a poesia nos convoca.
Outro dia eu vi um vizinho de filme dizendo assim pra mulher “Você pensa o quê? Eu trabalho, minha vida não é poesia não”. E eu pensei falando sozinha com a tela da TV, durante a sessão da tarde, pois a minha é.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

Tempo - Adelia Prado

A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero
a fome.

domingo, 12 de julho de 2009

Adelia Prado

AZUL SOBRE AMARELO, MARAVILHA E ROXO

Desejo, como quem sente fome ou sede,
um caminho de areia margeado de boninas,
onde só cabem a bicicleta e seu dono.
Desejo, como uma funda saudade
de homem ficado órfão pequenino,
um regaço e o acalanto, a amorosa tenaz de uns dedos
para um forte carinho em minha nuca.
Brotam os matinhos depois da chuva,
brotam os desejos do corpo.
Na alma, o querer de um mundo tão pequeno,
como o que tem nas mãos o Menino Jesus de Praga.

Deivid Bende

Eu nunca falei a verdade quando estava mentindo, mas estava mentindo quando não quis demonstrar o quanto era doloroso ficar longe de voce, talvez por medo, ou por orgulho, talvez por achar que nunca daria certo, ou apenas por pensar que nada daquilo realmente estava acontecendo, eu me deixei levar pelo seu sorriso encantador, pelas suas palavras que me diziam onde eu deveria ir, e onde eu deveria estar. Tudo aquilo ficou engasgado junto com tudo o que eu sempre quis dizer para voce, mas nunca tive coragem de assumir relamente o que pensava. Tudo se tratava de breves momentos de alegria por estar tao perto Talvez eu realemente deveria deixar voce saber ou pelo menos dar a certeza que eu quero que vc tenha, só espero não ter esperado tempo demais, e nem ter cometido erros demais. Ninguém sonha um sonho sozinho, e o fim vai justificar os meios. Se tudo isso não passar de um sonho, não quero que ele caia no esquecimento de minha memória, mas que permaneça comigo cada dia p eu lembrar de seu sorriso.

sábado, 20 de junho de 2009

Poesia Metaluinguistico


VIVER DE POESIA - ELISA LUCINDA

Lembro de eu gostar de palavra.
Desde pequena eram como um brinquedo pra mim.
Desde quando “soréconvosco” era uma palavra só,
sem o sentido e sem as quatro palavras
“o Senhor é convosco” dentro dela.
Desde o gato Fuminó,
história infantil publicada e escrita na oralidade de meu pai,
até os imaginativos vôos no país da gramática de
Emília nas asas de Monteiro Lobato.
Era bom dizer poesia na escola,
recitar no pátio diante dos colegas uniformizados
e de mim saindo um poema cantando a primavera,
louvando o dia da árvore.
Foi bom já aos onze ser levada pela sabedoria
de minha mãe e meu pai para estudar Interpretação Teatral da Poesia,
de 11 a 17 anos aprendendo uma coisa muito diferente
do que já naquele tempo se chamava declamação,
apartir daí uma seta cruza o tempo e o motor é dela,
e o avião é ela, e a vela é ela.
Ela o barco, é ela o trem.

Cantiga de amigo - Chico Buarque de Holanda

A MAIS BONITA

Não, solidão, hoje não quero me retocar

Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas

Deixo que as águas invadam meu rosto

Gosto de me ver chorar

Finjo que estão me vendo Eu preciso me mostrar

Bonita

Pra que os olhos do meu bem

Não olhem mais ninguém Quando eu me revelar

Da forma mais bonita

Pra saber como levar todos os desejos que ele tem

Ao me ver passar bonita

Hoje eu arrasei na casa de espelhos

Espalho os meus rostos e finjo que finjo que finjo

Que não sei

PROJETO NURC


O QUE É PROJETO NURC?

É o projeto que estuda as Normas Linguisticas Urbanas Culta.
Esse projeto foi iniciado no mexico pelo professor Juan Lopes Blanch, sua inteção era inserir a norma culta no espanhol falado.
Desde o pricipio se pensou em extender o projeto a paises que com a lingua portuguesa no ano de 1959 o prjeto chegou ao Brasil e como em outros paises o projeto foi inserido nas cinco maiores capitais do Brasil, são elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife,e Porto Alegre. Para cada cidade foi instituido um responsavel para cuidar do projeto.




Poesia Concretista - Victor AZ

E X T O R S Ã O M E D I A N T E S E Q U E S T R O

T R Á F I C O D E E N T O R P E C E N T E S

P R O S T I T U I Ç Ã O I N F A N T I L

L A V A G E M D E D I N H E I R O

H O M I C Í D I O D O L O S O

C O N T R A B A N D O

I M P U N I D A D E

C O R R U P Ç Ã O

E D U C A Ç Ã O

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Gramatica...

O QUE É GRAMATICA DESCRITIVA?

É uma gramatica que descreve a estrutura do que se fala, ou seja uma gramatica que põe em pratica o que se fala, a linguagem usada por um determindo povo.

O QUE É GRAMATICA NORMATIVA?

Uma gramatica que usa regras que devem ser levadas ao pé da letras tanto na fala, quanto na escrita, esse tipo de gramatica dita "certa" descrimina tudo o que não esta de acordo ao seu padrão.



Hieronymos Bosh


Poesia do recital - Shirley Pimentel de Souza

Anjos Negros

" As pragas devastadoras invadiram a Diaspora,
e embraqueçeram nossa cultura
tranformaram em avós e avôs
nossos iaias, ioios
Instituiram um "bem" branco,
um "mal" negro.
uma "paz" branca,
um "luto" negro...
Almas brancas que vão pro céu
almas negras que vão pro inferno
Deuses brancos que são beneficos
Deuses negros que são maleficos...
Anjos brancos que são "cristos"
anjos negros que são demônios.
Chega!!!
A negritude da seu grito de liberdade!
As crianças negras querem anjos da guarda negros
O povo negro quer magia negra
O povo negro quer cultura negra
Repudiamos sua prepotencia
Repudiamos sua divisão racial
Repudiamos sua aquarela racista
Queremos anjos negros
Faremos um "bem" negro
Somos um povo NEGRO !!!